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O governo da província canadense de British Columbia anunciou que apoiará a criação de livros abertos para os 40 cursos pós-secundários (após o Ensino Médio) mais populares do sistema público de ensino. Os textos serão disponibilizados gratuitamente na Internet, mas também terão versões impressas a preços baixos. 200 mil estudantes devem ser beneficiados pela medida.

Os primeiros textos serão liberados nas instituições de British Columbia no início de 2013, para cursos ligados às artes, ciências, humanidades e negócios. Bccampus, uma organização pública e colaborativa de tecnologia da informação que serve o sistema de ensino superior, irá estimular faculdades, instituições e publicados a implementarem o projeto de livros abertos.

David Porter, diretor executivo da Bccampus, explicou por que as licenças Creative Commons são cruciais para o projeto. “Licenças abertas são fundamentais para tornar os livros gratuitos aos estudantes e flexíveis o bastante para os educadores customizarem o material e adequá-los aos seus cursos”.

O secretário de educação de British Columbia, John Yap, anunciou o projeto na Open Education Conference, em Vancouver. Segundo ele, os estudantes devem economizar mais de mil dólares por ano com a medida e também desafiou outras jurisdições do país a adotarem políticas de recursos educacionais abertos: “Tirando vantagem da tecnologia, mais pessoas podem acessar o aprendizado da economia do conhecimento e acessar novos ou melhores empregos”.

Algumas semanas atrás, o Creative Commons celebrou uma legislação similar na California. Segundo o CC, o projeto de British Columbia amplia e enriquece o projeto estadunidense. Ambos os projetos podem ser considerados passos excitantes para o movimento de recursos educacionais abertos (Open Educational Resources). Como os livros produzidos em British Columbia e na California terão licenças Creative Commons, seu impacto tem o potencial de espalhar a ideia para além dos Estados Unidos e do Canadá, podendo ser reformulado e adaptado por educadores do mundo todo.

British Columbia está alavancando tecnologias e licenças do século 21 para garantir que seus cidadãos tenham acesso viável a livros de alta qualidade para o ensino pós-secundários. Licenças abertas para conteúdos públicos garante um imenso impacto para o dólar público.

 David Porter, diretor executivo da Bccampus:

“BCcampus está na vanguarda dos Recursos Educacionais Abertos no Canadá. Acreditamos que o objetivo da educação é a criação, disseminação e preservação de conhecimento e, como uma agência que coordena serviços colaborativos de aprendizagem online, nós temos um papel funadmental a cumprir”

 

 Fonte: CreativeCommons.Org

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por Silvio Meira, no dia a dia, bit a bit (Título original: É preciso abrir os [silos de] dados)

Vivemos em uma economia da informação. disso já não dá mais pra duvidar. e essa informação está codificada em dados, gerados por uma miríade de fontes, em todo o espectro econômico e social. os dados gerados pelo setor público [ou com seus recursos] têm importância especial neste cenário, pois podem servir de base para aplicações de grande impacto para a sociedade. o setor público e seus contratados são o  único fornecedor de uma vasta gama de informação, desde dados básicos sobre a economia e geografia até informação meteorológica e de resultados de pesquisa científica financiada com recursos públicos.

via de regra, se o dado gerado com recursos do estado [dentro ou fora de sua máquina] não tem uma ótima razão para ser sigiloso, ele é  público. a lei brasileira de acesso à informação diz que órgãos públicos devem observar a “publicidade como preceito geral e o sigilo como exceção” e que devem divulgar “informações de interesse público, independentemente de solicitações”. se, quando e como tal preceito vai ser cumprido em todas as vertentes e níveis de governo, como a prefeitura de taperoá, é outra história. mas pelo menos a cidadania, agora, tem um sustentáculo legal para suas demandas por dados públicos.

mas não basta o dado público ser “do” público, por lei. ele tem que ser “aberto”. e aberto, no caso de dados governamentais, quer dizer mais do que ser visível, ou de haver um link para se ter acesso à fonte. veja que já descarto, de primeira, dados impressos, gravados em CDs ou outros “meios” do passado distante. “aberto” quer dizer [hoje] estar na rede, conectado. uma definição [quase] universalmente aceita diz que os dados governamentais abertos devem ser completos [tudo que não for sigiloso deve ser liberado], primários [dados devem ser publicados da forma que foram gerados ou coletados, e não filtrados ou agregados], atuais [sem o que o valor do dado pode desaparecer], acessíveis [a disponibilização dos dados deve se dar da forma mais ampla possível], processáveis [por máquina, da forma mais simples possível], não discriminatórios [acesso universal, sem que seja necessária identificação ou registro], ter formatos abertos [o formato deve estar no domínio público] e livres de licenças [livres de direito autoral, marcas, etc].

o bom é que esta definição está  bem aqui, em português, no portal brasileiro de dados abertos, o dados.gov.br. mas quando você clica no mesmo portal para ver que dados estão “abertos”…

…o tamanho do problema a ser enfrentado pelos fornecedores e consumidores dos dados públicos começa a se tornar aparente. há dados em múltiplos formatos [o que era de se esperar], sem licença aberta [isso não era de se esperar]… e o mais complicado é que a maior parte dos dados disponibilizados está “morta”.

como assim?… dado morto é aquele que, capturado [ou gerado], processado e talvez transformado, é apresentado numa forma estática na qual não é  possível extrair, por exemplo, sua origem, composição ou relacionamentos [com outros dados ou fontes de dados, em rede]. exemplo? todo o catálogo de obras do PAC. os dados se referem a dezembro de 2011 e estão “enterrados” em arquivos .csv. é claro, você diria, que os dados são processáveis por máquina. sim, eles atendem um ou dois preceitos da definição de dados abertos, mas sua utilidade é limita.

há dados que parecem “vivos”, mas não estão… os  dados zumbi. aqui, os dados estão “mortos”, do ponto de vista de utilidade prática, mas são “animados” por código a ponto de parecerem “vivos”. um representante é a plataforma lattes do CNPq, registro da academia brasileira e sua produção. os pesquisadores inserem os dados no sistema, e eles são enterrados [vivos] nos silos [bancos de dados] da instituição. depois, são “animados” e apresentados em páginas web, como se vivos estivessem.  os gestores, questionados pela comunidade acadêmica, dizem estar cumprindo a lei e as normas vigentes. numa leitura superficial, pode até ser o caso e o gestor público pode sempre alegar, a seu favor, que está “fazendo o possível”.

mas o dado zumbi não basta, porque a lei [cap II, art. 7, par. IV] compreende, entre outros, o direito de obter informação primária, íntegra, autêntica e atualizada. a lei estabelece que –se possível- dados públicos devem estar vivos “mesmo”, de acordo com a definição de dados abertos do próprio portal de dados abertos do governo federal. o dado vivo é aquele que está na fonte, que pode ser requisitado e tratado [computacionalmente, de forma não identificada, em ambos os casos…] em estado bruto, sem passar por filtros e sistemas que escondam ou modifiquem características fundamentais. não que se suponha má fé do gestor de dados públicos, longe disso. mas cada fluxo ou banco de dados é passível de uma infinitude de tratamentos, a vasta maioria impensável sem acesso, para exercício, à fonte. e o setor público não tem os recursos e meios para tentar múltiplas formas de tratamento, o que normalmente só acontece se o ciclo de vida da informação for exposto –aberto- em toda sua amplitude.

isso já é feito em larga escala pela iniciativa privada. você não imaginaria a apple ou google escrevendo todas as aplicações para seus smartphones, certo? os app markets, aberturas no ciclo de informação [e programação, no caso] de ambas as empresas, tornaram tal riqueza possível. o mesmo vale para as APIs [interfaces de programação] de google, faceBook, twitter e quase tudo o que está na web, hoje.

quem faz sistemas para a rede tem que pensar e fazer parte da funcionalidade “em casa” e o resto [de preferência a maior parte] “na rua”. aliás, a medida de sucesso de qualquer sistema de informação em rede, hoje, é estar muito mais “na rua” do que “em casa”.

é esta filosofia e entendimento de sistemas e dados abertos que precisamos ter no setor público. ela já é a norma na economia de informação privada. pelo menos na parte dela que vai sobreviver. precisamos migrar nossos dados públicos de mortos para vivos, de preferência sem passar pelos zumbis. porque os últimos não passam de simulacros da verdadeira informação pública e aberta que todos queremos.