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Por Roberto Almeida, publicado originalmente no Opera Mundi/Título original: “Assange prevê deixar embaixada em 1 ano e confirma vazamentos de emails da Síria”

O fundador do Wikileaks, Julian Assange, refugiado na embaixada do Equador em Londres desde o dia 19 de junho, disse nesta quinta-feira (30/08), em entrevista à rede multiestatal Telesur e à equatoriana Gama TV, que deve ficar de “seis a 12 meses” na representação diplomática, onde espera solução para o impasse sobre seu salvo-conduto. Ao mesmo tempo, segundo ele, o Wikileaks continua trabalhando e “está em processo de publicar 2,4 milhões de e-mails do governo da Síria”.

“Temos uma perspectiva interna”, disse. “É óbvio que potências ocidentais estão usando os problemas sírios para se livrarem da oposição política no país a mando de Israel e a fim de enfraquecer o Irã”, afirmou o jornalista australiano. Ele reiterou que está sofrendo “perseguição política”, assim como o Wikileaks, por expor milhares de documentos confidenciais. “Se você for contra os Estados Unidos, algo de ruim vai acontecer com você”, disse.

Assange é esperado na Suécia para responder a alegações de estupro, mas teme que uma extradição ao país possa desencadear uma segunda extradição, desta vez para os Estados Unidos, onde responderia por supostamente vazar documentos do Exército norte-americano sobre suas operações no Iraque e Afeganistão.

No dia 17 de junho, o presidente do Equador, Rafael Correa, concedeu asilo político a Assange e, ao mesmo tempo, enfureceu os governos de Suécia, Reino Unido e Estados Unidos. O fundador do Wikileaks nega as acusações. Seus advogados, que buscam vias jurídicas para conseguir o salvo-conduto, afirmam que não há garantias do governo sueco para um julgamento justo.

Assange disse acreditar que uma solução diplomática é possível para que obtenha liberdade, mas não descartou algum evento imprevisível de porte mundial, como uma guerra com o Irã, o resultado das eleições nos Estado Unidos ou, ainda, um eventual recuo do governo sueco, que poderia desistir do caso – hipótese mais provável, de acordo com o jornalista.

Embaixada

Enquanto isso, ele continua no prédio da embaixada do Equador em Londres, na região de Knightsbridge, com acesso à internet, cama e chuveiro. Ativistas fazem vigília em frente à representação diplomática desde junho para registrar a movimentação policial. Há menos de um mês o governo britânico ameaçou prender Assange dentro da embaixada, com base em uma lei local de 1987. O intento foi rechaçado pela OEA, Alba e Unasul, que pediram respeito à Convenção de Viena, garantidora da inviolabilidade do imóvel diplomático.

O chanceler britânico William Hague, que descarta o salvo-conduto a Assange, disse ontem que uma decisão está longe de ser tomada e que as conversas diplomáticas com o Equador continuam. Durante a entrevista, o fundador do Wikileaks agradeceu novamente ao governo equatoriano por sua decisão de conceder asilo.

“Em um contexto mais amplo, o Equador tem sido correto em mostrar seus valores nesse caso. Não só em me conceder asilo, mas também ao conceder asilo àqueles que merecem – tem a capacidade econômica de fazê-lo. E também por ter dado um passo adiante ao defender meus direitos, porque meus direitos são correlatos aos valores que o Equador quer projetar”, afirmou Assange.

Assista aqui à primeira e à segunda parte da entrevista de Assange.

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Natalia Viana é diretora da Agência Pública de jornalismo, parceira do Wikileaks no Brasil. Quando me deparei com o artigo, me senti instigado a ler para saber o que viria dela, que tem uma relativa proximidade com Assange e o Wikileaks, sobre o caso recente envolvendo os governos de Equador e Reino Unido.  O artigo é excelente, tanto na forma quanto no conteúdo. Compartilho abaixo.

Por Natalia Viana*, reproduzido do suplemento “Aliás” do Estado de S.Paulo, 19/8/2012.

Até a noite de quarta-feira (15/8), eram poucos os policiais que vigiavam a entrada da embaixada equatoriana em Londres. Passavam parte do turno apoiados no balcão da recepção, batendo papo com um simpático equatoriano gorducho que recebe as frequentes visitas. Onde quer que Julian Assange esteja vivendo, sabe-se que haverá um constante entra e sai de amigos, jornalistas, advogados, ciberativistas. Haverá um pequeno grupo de apoiadores segurando cartazes e tocando um mau violão. E, vez ou outra, uma turba de repórteres atrás da última notícia sobre o WikiLeaks e seu fundador.

Naquele sábado de julho, semanas depois de Assange ter pedido asilo na embaixada do Equador fugindo dos olhares dos policiais, o recepcionista respondeu animado minha saudação: “Como está tudo por aqui?” “Muito bom, muito bom!”

Lá dentro, uma jovem morena de braços tatuados me acompanhou. Passando pela recepção, onde uma foto de Rafael Correa com a faixa presidencial recebe os visitantes, há um longo e branco corredor; ao fundo dele, no escritório modesto, espalha-se uma balbúrdia de cartões de congratulações coloridos. A janela está sempre coberta pelas cortinas brancas – afinal, lá dentro vive um dos homens mais vigiados da Grã Bretanha. Que invariavelmente está sentado à mesa de madeira, mergulhado no seu laptop, entretido em uma quantidade inacreditável de dilemas éticos, jornalísticos, jurídicos.

Negócios de empresas europeias com a Síria

Na sua voz forte, Assange quase sempre é categórico: existe o certo, e o errado. “Só havia uma decisão à qual a Corte Suprema Britânica poderia ter chegado”, me disse naquela tarde. A Corte decidira enviá-lo para a Suécia, onde um promotor pede sua extradição para ser interrogado sobre acusações de crimes sexuais. Para Assange e seus advogados, um promotor não pode ser considerado autoridade judicial, segundo as leis britânicas. “Eles então usaram uma convenção que nem foi discutida no julgamento para embasar a decisão. E é mentira.”

Foi com plena convicção de que se tratava de uma mentira, e de que o processo tinha sérias falhas legais, que o alvíssimo australiano tocou a campainha da embaixada equatoriana no dia 19 de junho e não saiu mais. Surpreendeu a Justiça britânica e sueca, toda a população do Equador, a imprensa internacional, a Interpol. E seus amigos mais próximos. “Fiquei impressionado quando soube”, disse o jornalista americano Gavin MacFadyen. “Ele decidiu não avisar ninguém, nem mesmo os que deram dinheiro para sua fiança. Se alguém mais soubesse, poderia ser responsabilizado legalmente.”

Nos dias seguintes, parte da equipe do WikiLeaks já se reunia na embaixada, retomando o ritmo de trabalho – a organização jamais teve uma sede. Ali, continuou produzindo vazamentos saborosos. Em 5 de julho, começou a publicar os Arquivos da Síria, mais de 2 milhões de e-mails internos do governo sírio. A partir deles, jornais do Líbano, Egito, Alemanha e Itália, além da agência americana Associated Press, revelaram negócios de empresas europeias com o regime amplamente criticado pelo massacre de oposicionistas.

“Uma pessoa impossível”

Não deu nem três semanas e a organização realizou uma elaborada ação virtual – uma “pegadinha” – ao colocar no ar um site falso do jornal The New York Times no qual um suposto artigo do editor Bill Keller, crítico voraz de Assange, pedia desculpas pelas rusgas passadas. O estilo era tão convincente que o próprio New York Times tuitou. A farsa gerou confusão, bate-boca virtual e críticas – afinal, afirmou um jornalista, não pega bem para uma organização que publica documentos verdadeiros falsificar um artigo. Assange&Co. – como assinaram no Twitter – nem ligaram. A ação visava a criticar o silêncio do New York Times sobre o bloqueio econômico realizado pelas empresas PayPal, Visa e Mastercard, que suspenderam serviços de doações ao site. “Isso sim não é brincadeira”, tuitaram.

Mesmo com bom humor, a perspectiva é que a saga de Assange se arraste por muitos meses. Na calçada, diante da janela acortinada, segue a postos a turba de fotógrafos e de apoiadores com seus cartazes – muitos deles instalados desde que o Reino Unido decuplicou a quantidade de policiais na vigília após ameaçar, por carta, evocar uma lei de 1987 para suspender o status diplomático da embaixada e prender Assange ali mesmo. “O Reino Unido não reconhece o princípio do asilo diplomático”, declarou depois o ministro do Exterior britânico, William Hague. Em anos recentes, foram poucas as ocasiões em que um chanceler do Reino Unido perdeu as estribeiras dessa maneira. Afinal, contestar um tratado de peso, como a Convenção de Viena, não soa nada britânico.

É essa talvez a principal qualidade do hacker, ativista, jornalista e provocador por excelência. Mesmo enclausurado em um pequeno escritório, em prisão domiciliar há mais de ano e meio, Assange insiste em fazer o que faz melhor: desnudar o cinismo das versões oficiais. “Assange é uma pessoa impossível”, reclamou certa vez um renomado jornalista britânico.

***

[Natalia Viana é diretora da Pública – Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo, parceira do WikiLeaks no Brasil]

O caso de Julian Assange, fundador do Wikileaks, estourou novamente esta semana após o anúncio do governo equatoriano de que concederia asilo diplomático ao australiano (que andou por bandas suecas e inglesas nos últimos tempos). Tanto a grande imprensa quanto os veículos da mídia alternativa e a blogosfera tem repercutido amplamente a reação autoritária da Grã-Bretanha face à atitude – coerente, na opinião deste blog – do Equador.

O Reino Unido tem papel fundamental na caçada jurídico-burocrática ao mensageiro. Sua instransigência em relação à decisão equatoriana evidencia a trama, que também envolve a Suécia (que extraditaria o suposto estuprador) e os Estados Unidos da América (que o condenaria por vazar informações secretas americanas – o que pode levar à prisão perpétua ou à pena de morte). Tudo baseado em uma rocambolesca acusação de estupro – o suficiente para entregar à parte mais interessada o homem que divulgou uma avalanche de informações sensíveis à diplomacia internacional. O exemplo de Bradley Manning é simbólico para entendermos a animosidade estadunidense.

Foto: Yanice Idir

A decisão equatoriana é um sopro democrático no caso Assange. As práticas suscitadas por ele e pelo Wikileaks inauguram uma nova forma de fazer jornalismo, baseada no acesso à informação, que germina facilmente na era digital. Além disso, uma nova relação entre o poder público (e privado) e a sociedade é estabelecida, pois há uma vigilância intensa – baseada em princípios hacker – sobre as instituições, que já não têm mais o controle absoluto das informações.

Como disse Vladimir Safatle em artigo publicado no dia 18/8, na Carta Capital, Assange “apenas colocou em prática dois princípios que todo político liberal diz respeitar: transparência e honestidade. Mostrar tudo o que se faz”. Na visão de Safatle, o modus operandi da democracia liberal utiliza acusações que visam desqualificar moralmente o perseguido: “Assange não estaria sendo caçado por ter inaugurado um mundo onde nenhum segredo de Estado está seguramente distante da esfera da opinião pública. Um mundo de transparência radical, no qual os interesses inconfessáveis do poder são sistematicamente abertos. Ele estaria sendo caçado por ser um maníaco sexual. Seu problema não seria político, mas moral. Desde há muito é assim que a democracia liberal tenta esconder seu totalitarismo”.

Não me parece factível que um problema estritamente moral ocasione as ameaças obscuras feitas pela Grã-Bretanha ao Equador – os súditos da cadavérica e mumificada rainha urram, pela força policial e por documentos oficiais, que invadirão a embaixada latina na Inglaterra e começarão uma guerra com o país sulamericano. A resposta categórica do governo equatoriano – “Não somos uma colônia inglesa” – para manter sua decisão e rechaçar a deselegância real é um tapa na arrogância servil do antigo colonizador estadunidense, que agora age como meretriz dos interesses de sua cria.

Os britânicos afirmam que os termos de acordo internacional sobre asilo diplomático não se aplicam no Reino Unido e, especificamente, no caso de Assange. Para a Grã-Bretanha, é uma obrigação “cívica”, “moral” e “política” entregá-lo às autoridades suecas. Curiosamente, esta lógica não se aplicou no caso do ditador chileno Augusto Pinochet, que teve seu pedido de asilo aceito e foi recebido de braços abertos pelo Reino Unido em 2000. Conflitos diplomáticos à parte, a má notícia para a rainha, para republicanos e democratas e para engravatados do mundo inteiro, é que o processo iniciado pelo Wikileaks não tem volta. Para nós, cidadãos de seus países, esta é uma ótima novidade.

Foto: Dominic Lipinski/PA

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Welcome to the community, Partido Pirata do Brasil (Bem-vindos à comunidade, Partido Pirata do Brasil)

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[a ideia dos posts com o selo drops no título é compilar algumas manchetes, com seus respectivos hyperlinks, de notícias relevantes aos debates propostos no blog. como me falta tempo para – em alguns casos – traduzir todas as notícias e republicá-las, pensei em fazer uma espécie de clipping de publicações online. espero que dê certo]